Sofro.
Sofro porque, hoje, 80 mil braços se cruzam em 20 mil beijos
E isso lhes basta.
Sofro porque
Nesta noite, vinho, chuva e lama correrão juntas.
E desta aliança impura, por tambores e sorrisos regada,
alimentar-se-ão três tristes famílias.
E a angústia das negras nos servirá de pretexto.
Diremos a todos que hoje nos abandonaram, que é por elas.
Só e somente por elas.
Que por seu sofrimento, choramos.
Que por sua alegria, cantamos.
E de seu céu e inferno, bebemos.
Diremos ainda, senhores
Que existe algo.
Que somos e sabemos
Não falaremos
Desse quarto vazio a nos embalar.
Que em nossos dias falta leme e lume.
Que tateamos como bêbados à meia-noite
Que acordamos ao som de cruel matilha repousando em nosso peito.
Repetiremos, uma vez mais, que a guerra, a fome e a praga nos leva pela escuridão.
E então, quando estivermos bem certos de nossa farsa,
Trairei a todos.
Confessar-te-ei
Que não é a miséria das enchentes
Mas a ausência tua
(A dilacerante ausência tua)
Que jorra por entre os mudos versos
Deste choro cruento.
Saberás.
E isso me basta.
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